Por Alice Pontes N. Vasconcelos, Ana Beatriz Rodrigues e Ana Clara Barros.
Carlos Drummond de Andrade, considerado um dos principais representantes da literatura brasileira, escreveu durante sua vida diversos poemas, dentre eles podemos citar:
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Este poema apresenta uma característica comum a algumas de suas obras: a visão pessimista do cotidiano. Além disso podemos destacar forte presença da solidão do homem “o povo sumiu”, angústia pela vida, observa-se que a alegria ali já existiu um dia, mas se foi, “a festa acabou”. Há frieza na alma e na vida de José: “a noite esfriou”.
este poema, é importante se ressaltar que todas as situações vividas por ele são impostas, ou seja, ele não as buscou até mesmo porque, durante os versos, apresentam-se protestos que se repetem durante toda a obra “e agora, José? ”. Diante da situação de solidão vivida, não se encontram nem palavras, “está sem discurso”.
Nota-se também forte falta de esperança, pois “o dia não veio”, já que é o nascer do dia que faz surgir novas oportunidades, o que não ocorreu para José. Para ele, tudo lhe parece inútil, ele está impossibilitado de agir, perdeu-se, não se encontra em si próprio, não tem onde procurar ajuda “sem parede nua para se encostar” e, por fim, está sem direção.
Referência:
http://oficinadoescritor.blogspot.com.br/2010/03/analise-do-poema-jose.html
Soneto da perdida esperança
“Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo. “
“Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora. “
“Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa”
“com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno. “
O poema reflete sobre a perda da esperança, quando o bonde passa, ele perde não só a esperança, mas também a alegria. A metáfora utilizada da “rua inútil” é para se definir enquanto pessoa. Essa falta de esperança atrapalha seu crescimento, pois ele tenta evoluir e os caminhos se fecham, a ladeira é lenta e difícil de passar. Ele compara a sua infelicidade com a felicidade alheia e, com seu flautin, ele parece não saber diferenciar as situações que são baseadas nas ilusões.
Com base em: http://gr308491.blogspot.com.br/2014/10/soneto-da-perdida-esperanca-carlos.html
Carlos Drummond de Andrade, poeta considerado, até hoje, um dos mais famosos da literatura brasileira, situado na 2a geração modernista, escreveu diversos poemas, dentre os quais podemos destacar “Consolo na praia”, visto a seguir de estrofe em estrofe:
“Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu. ”
Nesta estrofe, ele trata de fases pelas quais as pessoas passam ou deverão passar. Trata da infância como um período de imaginação fértil e de descobertas simples, como sabores, cheiros, tato, porém, perdida. Também versa sobre a juventude, fase em que o indivíduo sonha e passa por momentos quase que decisivos. No entanto, também está perdida. Mas quando ele diz, “Mas a vida não se perdeu” ele captura a sensação de que todos ainda passarão por situações importantes, mesmo que percam a esperança passando por desventuras.
"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua. ”
Amores vêm e vão, mesmo que em nossa concepção eles devessem ser para “sempre”, na vida não se vive apenas um amor e, mesmo que ele nos decepcione, temos de seguir em frente e amar, porque o coração precisa ser forte para prosseguirmos a vida.
“Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão. “
Na primeira parte da estrofe, ele redige sobre uma perda que o deixa intensamente magoado, impedindo-o de viver, de tentar alguma viagem ou superar tudo. Já em “Não possuis casa, navio, terra” fala do seu fracasso que pode ter ocorrido devido as perdas em que teve e, assim, pode o ter desestruturado financeiramente. Por fim, vale dizer que ainda se possui um cão, sinônimo de companheirismo e amor ao seu lado.
“Algumas palavras duras,
Em voz mansa te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor? ”
Fala inicialmente de alguma desilusão que foi causada e que aos poucos o derrubou por conta da situação que era considerada inesperada, não se cicatrizando por conta da dor que era considerada insuportável. Na última parte, ele faz uma ironia, mesmo com as desilusões e as perdas.
“A injustiça não se resolve.
A sombra do mundo errado
muraste um protesto tímido.
Mas virão outros. “
Todas as injustiças que passamos ficam como estão, ninguém busca uma resolução ou busca uma melhora, ação considerada conveniente para alguma parte da sociedade e que, de certa forma, é melhor viver as sombras da sociedade cheia de diferenças. O protesto dele é indiferente diante de tantas influências e pessoas que realmente são escutadas. Ele considera o fato de que virão outras pessoas a protestar e cabe à sociedade escutá-los para um processo de melhorias.
“Tudo somado, devias
Precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no qvento...
Dorme meu filho. “
Somar tudo o que se perdeu, pois no fim tudo será desmanchado, (por um fim em tudo), relação do vazio do ser humano que, após tantas perdas, já está perdido, pois não pode mudar ou fazer quase que nada. E “dorme meu filho” se refere ao próximo dia, mais um dia para lutar.
A obra “Antologia Poética”, de Carlos Drummond de Andrade, retrata poemas das diferentes fases da escrita do poeta. A que será exposta nessa parte, é a fase do “Eu todo retorcido”, referida como a fase Gauche (1930-1934) do autor. Para compreender os versos desse período, é necessário entender o significado da palavra Gauche, que vem do francês, “esquerda”. Nesse caso, o “esquerda” entende-se por diferente, incompatível ou deslocado. Daí, encontra-se o sentimento de não pertencimento por parte do autor nos poemas escritos nessa época. Dentre eles, o que mais se destaca, é o Poema de Sete Faces, o qual será analisado a seguir.
"Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida...”
Nessa primeira estrofe, Drummond já se autoanalisa como uma pessoa predestinada a ser esquisita, a ser Gauche, desde o seu nascimento. Sua classificação de anjo torto indica que, em relação a aparência, ele até poderia se identificar com qualquer outro, mas seu interior, sempre foi diferente.
“...As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos...”
Aqui, as casas se referem às pessoas dentro delas que observam a vida dos que se encontram do lado de fora. Nessa observação, é percebido o desejo, a libido dos homens em relação ao sexo oposto. Perante a isso, o autor afirma que a Terra poderia ser mais celestial se não houvesse tanta luxúria.
"...O bonde passa cheio de* pernas
Pernas brancas pretas amarelas
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração
Porém meus olhos
Não perguntam nada...”
A tentação sexual se mostra como um fato. Ao mesmo tempo que o coração dele se pergunta o motivo de tanta atração e tanto pecado, pois ele sabe que se trata de algo ruim e errado, seus olhos não perguntam nada, pois ele, como todos os outros mortais, também sente desejo e também aprecia o sensual.
“...O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode...”
O homem referido é o próprio Carlos Drummond de Andrade. Aí, ele mostra uma gradação em que ele se esconde com receio de mostrar seu verdadeiro eu aos outros, um eu retorcido, fora dos padrões, e, novamente, gauche.
“...Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco...”
Nessa estrofe o autor se questiona do motivo de Deus ter permitido a sua entrada na Terra se ele, como todos os outros, cairia nas tentações do mundo.
“...Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração...”
Carlos, com uma pequena rima, demonstra que independente da pessoa que ele fosse, sua essência torta e pecadora continuaria a mesma. Portanto, a mudança de nome não seria uma mudança de seu caráter.
“...Eu não devia te dizer
Mas essa lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo.”
Por fim, após o desabafo em relação ao seu sentimento deslocado no mundo, Carlos renega tudo o que disse anteriormente colocando a culpa de sua comoção no álcool, escondendo-se novamente atrás de capas de proteção que não deixam revelar seu verdadeiro eu. Assim, o que o leitor pode interpretar deste poema e de outros dessa fase, é uma versão retorcida de como o autor realmente é.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho do mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Este poema apresenta uma característica comum a algumas de suas obras: a visão pessimista do cotidiano. Além disso podemos destacar forte presença da solidão do homem “o povo sumiu”, angústia pela vida, observa-se que a alegria ali já existiu um dia, mas se foi, “a festa acabou”. Há frieza na alma e na vida de José: “a noite esfriou”.
este poema, é importante se ressaltar que todas as situações vividas por ele são impostas, ou seja, ele não as buscou até mesmo porque, durante os versos, apresentam-se protestos que se repetem durante toda a obra “e agora, José? ”. Diante da situação de solidão vivida, não se encontram nem palavras, “está sem discurso”.
Nota-se também forte falta de esperança, pois “o dia não veio”, já que é o nascer do dia que faz surgir novas oportunidades, o que não ocorreu para José. Para ele, tudo lhe parece inútil, ele está impossibilitado de agir, perdeu-se, não se encontra em si próprio, não tem onde procurar ajuda “sem parede nua para se encostar” e, por fim, está sem direção.
Referência:
http://oficinadoescritor.blogspot.com.br/2010/03/analise-do-poema-jose.html
Soneto da perdida esperança
“Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo. “
“Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora. “
“Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa”
“com um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno. “
O poema reflete sobre a perda da esperança, quando o bonde passa, ele perde não só a esperança, mas também a alegria. A metáfora utilizada da “rua inútil” é para se definir enquanto pessoa. Essa falta de esperança atrapalha seu crescimento, pois ele tenta evoluir e os caminhos se fecham, a ladeira é lenta e difícil de passar. Ele compara a sua infelicidade com a felicidade alheia e, com seu flautin, ele parece não saber diferenciar as situações que são baseadas nas ilusões.
Com base em: http://gr308491.blogspot.com.br/2014/10/soneto-da-perdida-esperanca-carlos.html
Carlos Drummond de Andrade, poeta considerado, até hoje, um dos mais famosos da literatura brasileira, situado na 2a geração modernista, escreveu diversos poemas, dentre os quais podemos destacar “Consolo na praia”, visto a seguir de estrofe em estrofe:
“Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu. ”
Nesta estrofe, ele trata de fases pelas quais as pessoas passam ou deverão passar. Trata da infância como um período de imaginação fértil e de descobertas simples, como sabores, cheiros, tato, porém, perdida. Também versa sobre a juventude, fase em que o indivíduo sonha e passa por momentos quase que decisivos. No entanto, também está perdida. Mas quando ele diz, “Mas a vida não se perdeu” ele captura a sensação de que todos ainda passarão por situações importantes, mesmo que percam a esperança passando por desventuras.
"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua. ”
Amores vêm e vão, mesmo que em nossa concepção eles devessem ser para “sempre”, na vida não se vive apenas um amor e, mesmo que ele nos decepcione, temos de seguir em frente e amar, porque o coração precisa ser forte para prosseguirmos a vida.
“Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão. “
Na primeira parte da estrofe, ele redige sobre uma perda que o deixa intensamente magoado, impedindo-o de viver, de tentar alguma viagem ou superar tudo. Já em “Não possuis casa, navio, terra” fala do seu fracasso que pode ter ocorrido devido as perdas em que teve e, assim, pode o ter desestruturado financeiramente. Por fim, vale dizer que ainda se possui um cão, sinônimo de companheirismo e amor ao seu lado.
“Algumas palavras duras,
Em voz mansa te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humor? ”
Fala inicialmente de alguma desilusão que foi causada e que aos poucos o derrubou por conta da situação que era considerada inesperada, não se cicatrizando por conta da dor que era considerada insuportável. Na última parte, ele faz uma ironia, mesmo com as desilusões e as perdas.
“A injustiça não se resolve.
A sombra do mundo errado
muraste um protesto tímido.
Mas virão outros. “
Todas as injustiças que passamos ficam como estão, ninguém busca uma resolução ou busca uma melhora, ação considerada conveniente para alguma parte da sociedade e que, de certa forma, é melhor viver as sombras da sociedade cheia de diferenças. O protesto dele é indiferente diante de tantas influências e pessoas que realmente são escutadas. Ele considera o fato de que virão outras pessoas a protestar e cabe à sociedade escutá-los para um processo de melhorias.
“Tudo somado, devias
Precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no qvento...
Dorme meu filho. “
Somar tudo o que se perdeu, pois no fim tudo será desmanchado, (por um fim em tudo), relação do vazio do ser humano que, após tantas perdas, já está perdido, pois não pode mudar ou fazer quase que nada. E “dorme meu filho” se refere ao próximo dia, mais um dia para lutar.
A obra “Antologia Poética”, de Carlos Drummond de Andrade, retrata poemas das diferentes fases da escrita do poeta. A que será exposta nessa parte, é a fase do “Eu todo retorcido”, referida como a fase Gauche (1930-1934) do autor. Para compreender os versos desse período, é necessário entender o significado da palavra Gauche, que vem do francês, “esquerda”. Nesse caso, o “esquerda” entende-se por diferente, incompatível ou deslocado. Daí, encontra-se o sentimento de não pertencimento por parte do autor nos poemas escritos nessa época. Dentre eles, o que mais se destaca, é o Poema de Sete Faces, o qual será analisado a seguir.
"Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida...”
Nessa primeira estrofe, Drummond já se autoanalisa como uma pessoa predestinada a ser esquisita, a ser Gauche, desde o seu nascimento. Sua classificação de anjo torto indica que, em relação a aparência, ele até poderia se identificar com qualquer outro, mas seu interior, sempre foi diferente.
“...As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos...”
Aqui, as casas se referem às pessoas dentro delas que observam a vida dos que se encontram do lado de fora. Nessa observação, é percebido o desejo, a libido dos homens em relação ao sexo oposto. Perante a isso, o autor afirma que a Terra poderia ser mais celestial se não houvesse tanta luxúria.
"...O bonde passa cheio de* pernas
Pernas brancas pretas amarelas
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração
Porém meus olhos
Não perguntam nada...”
A tentação sexual se mostra como um fato. Ao mesmo tempo que o coração dele se pergunta o motivo de tanta atração e tanto pecado, pois ele sabe que se trata de algo ruim e errado, seus olhos não perguntam nada, pois ele, como todos os outros mortais, também sente desejo e também aprecia o sensual.
“...O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode...”
O homem referido é o próprio Carlos Drummond de Andrade. Aí, ele mostra uma gradação em que ele se esconde com receio de mostrar seu verdadeiro eu aos outros, um eu retorcido, fora dos padrões, e, novamente, gauche.
“...Meu Deus, por que me abandonaste
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco...”
Nessa estrofe o autor se questiona do motivo de Deus ter permitido a sua entrada na Terra se ele, como todos os outros, cairia nas tentações do mundo.
“...Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo mundo vasto mundo
Mais vasto é meu coração...”
Carlos, com uma pequena rima, demonstra que independente da pessoa que ele fosse, sua essência torta e pecadora continuaria a mesma. Portanto, a mudança de nome não seria uma mudança de seu caráter.
“...Eu não devia te dizer
Mas essa lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo.”
Por fim, após o desabafo em relação ao seu sentimento deslocado no mundo, Carlos renega tudo o que disse anteriormente colocando a culpa de sua comoção no álcool, escondendo-se novamente atrás de capas de proteção que não deixam revelar seu verdadeiro eu. Assim, o que o leitor pode interpretar deste poema e de outros dessa fase, é uma versão retorcida de como o autor realmente é.