E agora, José?
Por Débora, Lara e Arthur Brito.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Nesse poema, Drummond centra-se na solidão do homem, na fraqueza de quem um dia já foi feliz, um dia já teve tudo e agora nada tem. Dessa forma, o poeta faz um apelo ao materialismo, a medida que José se mostra cada vez mais só, mais deslocado, por não ter mais os bens que um dia já ostentou. Agora a alegria se foi, houve uma perda de momentos bons; a luz apagou, um ascender de trevas na sua vida; o povo sumiu, um abandono e solidão; novamente trevas e solidão na alma do eu-lírico.
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
Segundo o professor Carlos Lacerda, “é capaz de amar, de ser irônico, pois, "zomba dos outros", faz versos, mas que ironia: é desconhecido; vive no anonimato; "José" não tem sobrenome, não se sabe de onde veio nem para onde vai.” José não escolheu a solidão, a solidão o escolheu, o povo o deixou, o povo sumiu. Apesar de tudo José não se mostra isolado da realidade, pois ama, zomba, faz versos e protesta. Para José, até as pequenas esperanças se frustraram, pois o dia não veio, sem com ele novas oportunidades de uma vida menos só.
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
José, agora é marcado por uma confusão d sentimentos opostos, agora se mostra bem mais apegado aos bens materiais, entretanto, claramente desviado e incoerente.
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais!
José, e agora?
José, nesse instante, se mostra incapaz de fazer qualquer coisa, se vê inútil para se afogar num mar de desesperanças criadas. Se vê fora de seu ponto de equilíbrio e paz – Minas Gerais –
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
O autor sugere a José nesse momento que se agite, se manifeste afim de acabar com essa situação, mostrando a necessidade de colocar em risco até a própria vida, pois não há motivos para viver numa situação tão deplorável como a de José. Mas não José não morre, ele é forte, aguenta a solidão e descaso do mundo.
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Totalmente deslocado, José não tem onde se sustentar, sem a fé religiosa, sem uma rocha de apoio, se vê encurralado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário