sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Um modo de entender o poema “Ser”, de Drummond!


Por Ana Kariny, Arthur Costa e a Ana Vitória...

SER


O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste
contudo chamava-te

como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.

Em um dia sem data, uma hora sem horário, um local sem endereço, dois indivíduos se encontram, porém mesmo que ambos existam um não se faz presente. Você, leitor dessa narrativa, deve estar se perguntando como isso é possível? Bom, isso é trabalho para sua imaginação. Voltando à história... O primeiro desses se encontrou extremamente estupefato não por estar diante de um local nunca visto, mas sim por se encontrar com uma figura ligeiramente semelhante a si mesmo, o qual caminhava  numa estrada sem fim, inesperadamente avistou um banco e ali se acomodou. Já o segundo, que sempre esteve a vagar por ali, seguiu seu criador e sentou ao seu lado, encostando os ombros mesmo que esses não existissem. Ali, inicia-se um diálogo:

    - Olá, me chamo Carlos, e tu tens nome?

   - Não sou dotado de nome.

   - Mesmo que nunca tenha tido algum filho, tu eres um?

   - Depende daquilo que é entendido com filho...

   - Como tu vagas nessa imensidão, já que não possui carne?

   - A brisa não a possui, mesmo assim viaja como nenhum ser nunca viajou.

   - Bom, então me deixe perguntar, filho, em que gruta ou concha moras?

Nesse momento, Carlos pode presenciar pela primeira vez em toda a discussão, um sentimento vindo de sua imagem, assim com um olhar entristecido a figura o responde:

   - Morava junto a ti, mas nunca me percebeste. Contudo sempre o chamei, da mesma forma      que o faço hoje sendo adulto.

O indivíduo sem nome levanta-se e segue sua infinita viagem, assim caro leitor, se é que esteve acompanhando a história até aqui, deve estar se perguntando: E Carlos, o que fez após? Bom, para essa pergunta não encontrei a verdadeira resposta, mas ouço por aí que esse voltou para o mundo dos homens e manteve o contato com o Ser, filho o qual nunca teve, não obstante se faz sozinho até os dias que seguem.

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